A porta estava aberta. Talvez me preocupasse em outros tempos, quando o inverno estivesse a espreita para entrar. Telegrafaram-me uma onda, enquanto preparava-me para viajar. Avisaram para levar apenas o essencial: Ondas, conchas, liberdade em garrafinhas de vidro fosco. Corri para avisar o oceano, meu irmão cansado, dormiu e sonhou a maresia.
Não quis telegrafar, as gaivotas cantavam maxixe, o sol acabara de nascer, o coral já vai fechar. Conexão completa, a concha gritou: Sente-se logo em seu lugar. Avise as gaivotas que Úrsula está longe, o dia é claro, mas mantenha a vela acesa que depois a deusa apaga, só feche a porta e acorde seu irmão. Deixem o mar entrar em casa que ele cuida dela pra você.
Veja bem a concha que vai levar - avisaram as gaivotas - elas levam suas lembranças, bem pertinho podes ouvir uma delas te contar: Lembra quando fostes embora? Quando voltastes para o mar? Lembra de ter construído os seus sonhos com as gotas do oceano? E aí tu vais lembrar dos seus sonhos oceânicos, infinitos. Gaivota, gaivota, não me venha carinar . Carinar ? - gritou a gaivota - pelos deuses, o que é isso? Disse a concha em seu ouvido, e ele sorrindo para o mar: Carinar - explicou - é sonhar tanto, que faz de conta faz acontecer.
Conexão encerrada. E sentou-se na poltrona roxa, e o mar enviou um cavalo marinho para levar as minhas malas, cheias de conchas de lembranças, e fomos nós, fomos longe, fomos longe dentro do mar, cortejar Iemanjá.
Texto originalmente publicado na plataforma Sweek.
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