quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Ponte

 [AVISO DE GATILHO: suicídio]

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Eu atravesso uma ponte, todos os dias, do trabalho pra casa, da casa pro trabalho.

A ponte tem tanta representação, de conexão, de diálogos, de encontros, às vezes quando eu passo vejo a Lua brilhando linda e seu reflexo sobre as águas. Sinto vontade de sentar ali mesmo na ponte, e admirar a Lua mãe e tentar decifrar sua alma.

Às vezes, eu me pergunto se demorariam a encontrar meu corpo, no fundo do rio, depois de eu pular.

Será que deixaria minha mãe desesperada por não saber o que aconteceu, caso a correnteza me levasse e não pudessem me achar.

Será que eu morreria logo, ou agonizaria dias na cama de um hospital

Será que as toxinas do meu corpo seriam fatais para aquele ecossistema 

Será que a Lua teria dó ou não brilharia onde a morte veio estragar a paisagem....

Eu já atravessei passarelas, viadutos

Túneis e vielas

Antes eu atravessava o trilho de um trem

Ou precisava esperar o metrô da linha 2

Agora atravesso uma ponte....

Eu já morri muitas vezes nessa vida

Em nenhuma consigo parar de morrer.




quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Bulimia

[Aviso de gatilho: bulimia, suicídio, distúrbios alimentares, automutilação]

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Se a bulimia me salvou
Nunca saberei dizer
Só sei que às vezes
Ao invés de pensar em me matar
Eu penso em comer
E depois vomitar
O problema é que depois de comer
Eu quero morrer
Após me ver longe
Cada vez mais longe
Dos ditos padrões
Que a consciência sabe que não importam
Mas plantaram em terra profunda
A semente da autodepreciação
Que sustenta o capitalismo
Garante o consumo
E barateia a mão
Não, isso não é um poema
É uma das formas que eu encontro de vomitar
Não o que eu comi
Mas o que engoli em seco
Ou os sapos que engoli
Quem sabe os cortes na pele
As feridas que abro rasinhas que mal dá pra notar
Pra esconder as feridas na alma
São o caos mascarado de calma
Sem ninguém me julgar.