Tispadis adiantava seu serviço com uma boneca, no salão principal Delicadamente, tingia os detalhes de uma marionete de madeira, com um fino pincel banhado em vermelho. O artesão tinha um avental multicolorido sobre o corpo e os olhos fixos sobre seus movimentos sobre a madeira inerte. Ouviu quando a porta do quarto se abriu, e sem sequer virar para trás ou parar o que fazia, sorriu.
— Espero que não tenha tido dificuldades com as faixas.
— Não, senhor – disse a criança afofando o colete azul sobre a camisa branca, enquanto andava na direção da árvore no centro.
— Ótimo.
— O que o senhor está fazendo?
— Uma boneca, será entregue ainda hoje.
Mani chegou perto o bastante para ver as marcas no casco da árvore, olhava curiosamente, procurando respostas nas ranhuras para seu sofrimento. A marionete terminava de ser confeccionada por Tispadis, que colocava pequenos botões de pedra-da-lua na camisa pintada naquele corpo articulado. O menino continuava a observar aquela frondosa árvore, sem nada dizer, mas o carpinteiro percebia a curiosidade daquela jovem criança.
— Você tem alguma coisa por árvores – disse sem sequer tirar os olhos do manequim.
— Acho que sim. Qual o nome desta?
— Diana.
— Diana – sussurrou a criança, levando sua mão de encontro ao caule.
O toque foi rápido, silencioso e fatal. Não houve tempo para gritar, para pensar, para fugir. O corpo da criança foi, imediatamente, atirado ao chão. O pedaço de madeira que levava na mão, perdeu-se de sua posse com a violência da queda. A terra pulsou uma única vez, em toda Aquiles, os boreus, os corvos e até as árvores sentiram o tremor forte, linear e misterioso.
Trecho do livro 'Bairro dos Corvos Elétricos' disponível em E-book e Livro Físico
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