segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Lindsey Stirling sob o microscópio





A história da violinista hip hop – como ficou conhecida Lindsey Stirling nas redes sociais – começa no show de calouros American Got Talent, um dos programas da franquia de competição para conseguir um contrato com um selo. Lindsey fez uma audição. Dançarina e violinista, tocando dubstep e dançando balé, simultaneamente. Foi um choque, uma surpresa, uma revolução. Os jurados curtiram a inovação trazida por Lindsey, naquele primeiro momento, e sua participação foi empolgante até as quartas de finais, momento onde Piers Morgan, o jurado que mais fez críticas a Lindsey, chegou a dizer que sua performance no violino lembrava a ele ‘um bando de ratos sendo estrangulados’, ainda lhe disse que ‘o mundo não tem lugar para uma violinista dubstep dançante’. Sharon Osbourne disse que Lindsey ‘precisa estar em um grupo musical, com cantor e banda’, a eliminou do programa dizendo que o trabalho de Lindsey ‘não é o suficiente para encher uma casa de show’. Bem, encheu.

Lindsey se arriscou. Compôs várias faixas, inclusive, inspiradas na rejeição que sofrera no palco, e se lançou no Youtube no início de 2011. A bailarina, violinista e compositora de dubstep, mórmon, fã de videogames e música eletrônica teve uma repercussão na internet que ninguém esperava. Seus vídeos atingiram uma popularidade enorme em pouco tempo. Um dos seus primeiros vídeos – e um dos mais conhecidos – o clipe da música Crystallize, atingiu o marco dos 177 milhões de visualizações, só no ano em que foi lançado. Lindsey Stirling se tornou um sucesso no Youtube, seus clipes virais deram a sua autoestima um novo gás. Além da inovação musical, os videoclipes produzidos têm uma estética cinematográfica, uma mistura de sci-fi, futurismo, animação com videogames de última geração, extremamente atrativo visualmente.






Além de suas releituras de trilhas sonoras de games e de suas versões dançantes de trilhas de séries e musicais da Broadway, teve seu primeiro álbum lançado em 2012. O ‘Lindsey Stirling’ foi vendido no iTunes e os clipes postados no Youtube. O álbum alcançou o 1º lugar nas paradas de Dance/Eletronic e Álbum Clássico da Billboard. 


O ‘Shatter Me’ é um álbum de superação e crítica. Crítica a sua eliminação do programa com falas tão brutais, à indústria que tenta moldar o artista para que ele se adeque ao mercado. Uma inovação no campo artístico, não apenas gera uma ruptura na forma de fazer arte, mas reinventa o sistema de gostos o que, por consequência, devia mudar o mercado. 
“Se eu quebrar o vidro, eu terei que voar, não há ninguém para me pegar se eu cair. Tenho medo de mudar, os dias continuam os mesmos”.

Lançado em 2014, da mesma forma que o primeiro, ‘Shatter Me’ foi a oportunidade de realizar uma turnê mundial de Lindsey Stirling. A faixa que dá título ao álbum foi a primeira canção com letras que Stirling compôs e também a primeira participação em seu CD – cantada por Lzzy Hale. – Antes disso, Lindsey já havia feito colaborações em covers com o grupo Pentatonix e com outros artistas. Com doze faixas – apenas duas cantadas – o álbum foi muito bem recebido pelo público na internet e sua turnê passou por todos os continentes, por mais de 150 cidades.


A própria arte da capa, a letra da música título e o videoclipe da mesma apresentam todo um conceito de revolução – muito mais pessoal, dado o histórico de Lindsey com o mercado musical, mas que acaba se propagando para outras instâncias. Na capa, Stirling aparece vestida de bailarina com seu violino, em uma caixinha de música feita de vidro. Perfeita e impecável, moldada para agradar os olhos e os ouvidos. 



No clipe, Stirling aparece dentro da mesma caixinha de música, girando como uma boneca de porcelana. Enquanto isso, Lzzy Hale está aparentemente dentro de uma estrutura de um relógio, consertando-o, para que volte a seu funcionamento maquinado e perfeito – a grande máquina da industrialização da arte, que é mecanizada. Por sua vez, a boneca de porcelana se cansa de estar presa pelos padrões, se cansa da mecanização de seus movimentos, então, se arrisca a quebrar o vidro, mas a estrutura ameaça a desmoronar sobre sua cabeça. Ela se encolhe, buscando refúgio. Um morcego voa pelo lado de fora e se transforma em uma borboleta. A bailarina observa aquela imagem e busca coragem para tentar, novamente, quebrar o vidro. E então percebe, que conforme o vidro vai rachando, ela própria vai rachando, como porcelana. 


A voz potente de Lzzy Hale canta “se eu quebrar o vidro, eu terei que voar, não há ninguém para me pegar se eu cair. Tenho medo de mudar, os dias continuam os mesmos”. Lindsey observa seu corpo a ponto de quebrar e faz um solo no violino e se despedaça inteiramente. Ela dança livremente enquanto toca seu violino. Finalmente, o vidro da caixinha de música se estilhaça, libertando a boneca de sua prisão. Lindsey Stirling alcançou a popularidade fora da grande mídia e fora da indústria fonográfica. Seu trabalho serve de inspiração para outros artistas independentes que não entraram no mercado e/ou foram rejeitados pela indústria.

Trecho do artigo 'Shatter Me: A Produção Musical na Era do Compartilhamento Virtual' publicado na Revista IS Working Papers do Instituto de Sociologia da Universidade do Porto, em Portugal. O artigo completo está disponível aqui
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