Cansei de ser diferente
De ser 'único'
De ser 'peculiar'
Estou cansado de ter que ser explicado
De ter que ser digerido
De ser 'complicado'
Estou cansado de repetir o óbvio
De dançar conforme a música
De ter que gritar pra ser ouvido
Cansei de ser a cota da amizade
Da afetividade
O troféu da responsabilidade
O totem da diversidade
Guardado empoeirado no armário
Posto a vista quando tem visita
Como um escudo
Um colete que te protege
Quando te apontam privilégios
Quando te apontam preconceitos
Eu cansei de ser o apaziguador
Cansei de sempre ter que ser o primeiro a reclamar
Quando o sapato aperta
Cansei de existir como colaborador
Não é colaboração
É escravidão
Não tem negociação
Entre empregado e patrão
Tem demissão
E barateamento dessa mão
Tem retaliação
Tem mais valor a economia
A mais valia
Do que o trabalhador
Não tem valor
Nem a pena valeria
Não tem rima
Não tem prosa
Não tem silêncio
Nem som
Estou cansado de ter que justificar
De ter que explicar
De ter que perguntar
De ter que implorar
"Não consigo respirar"
Nota de repúdio não dá solução
Nem textão
Nem indignação
Muito menos Messias de arma na mão
O que realmente importa
Eu não sei o que fazer
Não há segurança
Nem pra comer
Nem pra voltar vivo pra casa
Cansei de entender
E de me acomodar
Com a ideia de que morrer
É a única coisa sensata a fazer
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