Eu nunca me envergonhei da minha música. Nunca me envergonhei do meu amor. Nunca soube me portar diante do desconhecido. Nem sei o que significa altruísmo. E sinto o desânimo se afirmar em minha vida. Não tenho mais vergonha de escrever, de pensar nunca tive. A noite já foi mais escura, mas o passado nunca esteve tão presente. Vendo meus sonhos como vendi antes para ela. Juro que ainda lembro a melodia da minha música preferida. Creio que não saberei como viver. Tudo se foi, e eu não conheço a verdade. “Eu prefiro morrer”, foi o que eu pensei quando ela disse para eu deixar de amá-la, e quando ela partiu, eu senti como se eu fosse morrer, como se eu fosse morrer dolorosamente a cada passo que ela dava para longe de mim. Eu quero saber por quê. Por que ela sempre tem que me apunhalar?
E tudo isso aqui dentro? Não tem valor? Quer saber mais? Eu não me importo com o vazio, não é ele quem me incomoda, o que me incomoda é o fato de ela não se importar. Eu sei o que eu sacrifiquei, Deus sabe o que eu sacrifiquei. Eu não pedi a vida pra ela, não foi isso que eu pedi. A culpa não é minha se eu a amo loucamente. Eu não pedi pra me apaixonar por ela, ela não pode me culpar por eu ser romântico. Ela não... Ela não merecia tudo isso que ela arrancou do meu peito com uma facada. E eu fiquei sozinho aqui, rapazes, sozinho em uma casa cheia de copos, cheia de bebidas, o piano, a gaita, o atabaque, o violino, o sax, estão todos lá em cima, e aqui, bem aqui dentro não tem nada, está vazio, e sabe onde está o que eu trazia aqui? Ela arrancou. Com um punhal ela arrancou, e não satisfeita ela o esquartejou, ela o torturou, e o jogou naquela lixeira.
Vazio.
Silêncio.
Dor.
Alguma lágrima boba.
Raiva.
Medo.
Vazio.
O que restou das cores do arco íris? Restou paz? Restou a paz? A verdade é consequência dos meus sonhos. Perdi o controle da vida, já não sei mais cantar. Desligue o rádio e me deixe partir. E a madrugada longa me abandona, observo os cristais sozinho a pensar, o velho whisky não me deixa adormecer. Por que acabar com as palavras? Por que deixar o rum? Não vou deixar você ir, nem com você vão as palavras. Deixe em paz minhas bebidas e seja feliz aonde quiser.
Silêncio outra vez e com o silêncio vão os meus sonhos. Eu tenho sono, mas a noite vazia me assusta e me acorda de madrugada. Eu sinto frio. Muito frio. Eu não sei falar quando ela diz que me ama, não sei agir quando ela se vai. Nunca soube rimar quando ela sorria para mim, não consigo viver quando ela me deixa dor. E tudo o que eu amo fica para trás, porque eu não sei pensar em nada que não me recorde à manhã nublada, onde eu me apaixonei por ela... Eu sempre pensei no que dizer pra ela quando seus olhos pousassem sobre os meus, mas agora... Eu a amo, ela sabe que eu a amo, ela não quer aceitar, eu não quero aceitar. Eu a amo insanamente, eu a amo a cada momento que passa, eu a amo mais a cada manhã que nasce, a cada estrela que brilha, e eu não posso dizer que posso viver sem ela, porque eu não posso. Ela é a razão, ela é o sentido, como viver sem um sentido?
Silêncio.
Por favor, whisky puro e, pelo amor de Deus, num copo limpo, obrigado.
29/12/2010
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