Você me abandonou na contramão de um cruzamento, me deixou chorando a beira da estrada. Você me viu chorar gritando o seu nome, dizendo que sem você eu não sabia ser eu, sem você não sabia viver, sem você o mundo era um globo ocular oco, que só se deixava transpassar por iluminação pública.
E na beira daquela estrada asfaltada pelos discentes da escolinha onde você lecionava geografia, agora eu já não choro mais. Você rasgou as cartas que eu te dei, os e-mails que mandei. Você me apagou da sua vida, mas levou o mapa desse coração que um dia foi seu. Agora, peço encarecidamente, com os olhos secos, meu mapa de volta. Se com ele você não soube se guiar pelo meu coração, não precisará mais dele nas estradas por onde andas agora.
E não digas que eu não chorei de madrugada, na beira dessa estrada, os vagalumes me assombram, me deixam pensar que são seus olhos, voltando para o meu colo, pedindo perdão.
Naquela noite, em que me deixou de mãos vazias, numa contramão de um cruzamento, naquela noite, então, chovia sangue em meu lamento, melado em soluços e desespero, banhado em sonhos destruídos, voltando a pé para minha casa, nossa, em tempos libertinos, que degradaram sua ideia de ilusão perfeita, e me deixaram aqui sozinho, retratando meu sofrimento, de uma noite apagada, pelo som do seu silêncio, nessa cabana abandonada, pelo corpo que a alimentava, que dava vida a essa estrada.
E agora o vento, assobia em minhas árvores, e traz sua lembrança amarga, em noites muito vazias, quando ainda consigo me lembrar de alguma coisa boa da vida.
20/09/2009
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