quinta-feira, 28 de maio de 2015

Ass: eu que não existo

Pra que se preocupar com o preconceito do outro, se eu não tenho?
É, pra que? Sou eu que morro todos os dias no anonimato 
Sou eu que apanho, que sou xingado, humilhado, ridicularizado
Pra que se preocupar com o psicológico de alguém que não existe?
Eu, negro, pobre, gay, trans, gordo, sem saúde e sem educação
Pra que discutir os meus problemas
Se eles não são seus problemas
Nem dos outros
Eu que morro, né?
Eu que sou assassinado, estuprado, marginalizado
Eu não saio no jornal
Não sou estatística
Não te dou moral
Pra que se ocupar pensando em mim
Discutindo com outros sobre mim
Pra que discutir o meu valor
O meu porém
Se eu roubo vou preso
Menor infrator
Não importa se estudei
Se nasci de abuso
Se Coca cheirei
Se bati no playboy
E da polícia apanhei
Rasparam minha cabeça
Mudaram o meu nome
Sou ninguém, não existo
Pra que sobrenome
Marginal
Sai assim
Marginal no jornal
Sou eu
Meu irmão
Minha mãe
Meu pai
Gay morto
Sou eu
Mulher estuprada
Sou eu
Trans espancada
Sou eu
Menor infrator
Sou eu
Sou eu que morro
Todo dia
Pra que se preocupar
Sem a notícia de morte
De estupro
De horror
Você não janta em família
Sou seu entretenimento
Não existo no real
Que estranho
Quando você me encontra na rua
Finge que não me vê
Fecha os olhos
Nem espia
Não me deixa existir
Só me deixa morrer.

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