Eu tenho um gosto muito retrô pra minha idade – muitos podem dizer. A verdade é que tenho um gosto muito internacional pra minha nacionalidade – muitos podem achar. Tenho um gosto com muito recorte racial, e não que tenha tido consciência disso conforme meu paladar musical foi se deliciando com sonoridades e vozes, mas faz sentido, quando você se acostuma a ser o único igual a você a estar nos espaços, você tende a procurar quem se parece com você em todos os outros lugares, ainda que sejam lugares etéreos, como uma música.
E de tudo que dizem, tudo que pensam, tudo que imaginam, nada é verdade ou tudo é verdade, já que tudo sou eu ou pelo menos uma representação de mim, conforme a perspectiva de cada um. Neste sentido, quem seria eu senão uma somatória de perspectivas do que cada um pensa de mim, incluindo a minha. Cada versão monta um pedaço do mosaico, cada um com um caco quebrado do que eu era e já nem sei. Como numa fração de tempo, um espelho distorcido, uma miragem, uma peça original em depredação, mal possível de enxergar o que foi um dia, não se sabe se era magnânima ou grotesca, se um dia foi valiosa ou se nunca valeu nada.
Se morresse agora, cada um teria um fragmento, um estilhaço, uma migalha do que eu era ou do que eu nunca fui, como poderão saber. Mesmo que eu estivesse viva e dissesse quem eu realmente sou, não acreditariam, porque a verdade seria apenas outra versão da história.
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