Eu não deixo nada
Nem herança
Nem dívidas
Nem avisos
Nem saudades
Nada levarei deste mundo
Nem sequer orações, que dispenso com prazer
Nem flores, que não devem ser mortas para desgosto do jardim
Não deixo mágoas
Não deixo rancor
Não deixo sorrisos
Lembranças
Não deixo, nem mesmo, lágrimas de crocodilo
E as palavras...
Ficam pro vento
Pro esgoto
Pra privada entupida
Pra porra
Não deixo nada
Não quero nada
Eu nem devia ter vindo
Não há porque fingir lamentar
A deusa da vida me leva tarde
Fui vomitada pela terra
Sou fruto de seu escarro
Um dejeto recolhido
Descartado
Não há minutos de silêncio
Nem pêsames e pesares
Não deixo nada
Nada levo
Fica apenas para a deusa mãe
O gosto ruim
E um alívio meigo
De finalmente
Limpar a boca
Após ter me vomitado
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