sábado, 8 de agosto de 2020

O Suicídio

Lá estava eu morto, estirado, pensando no sofrimento dela que ainda não tinha acabado, e o meu também não. Um vazio me tomava o corpo inerte, e eu não sentia, eu não ouvia, mas estava ali, como se nada tivesse mudado, como se nada tivesse acabado. E minha alma, estacionada entre o céu e o inferno perguntava as divindades: Se havia Deus, o que faltava? Por que havia um vazio no meu e no peito dela? Todas as previsões, as constatações estavam certas, mas eu, ainda assim, não conseguia tomar um rumo. E eu não tinha vontade de chorar, eu queria me deitar, e dormir, dormir para sonhar com dias melhores, com um refúgio eterno. 

Já não bastasse a vergonha, agora a coragem? Foi-se tudo, foram-se todos. Restou meu corpo estirado na calçada, o seu desejo insaciado, e nossas almas mescladas, sem ela nem saber. Tratava-se, no início, da minha vida, mas não há distinção entre nossas vidas. De forma não recíproca, uma depende da outra. E uma conhece a outra, chora pela outra, vive pela outra. E se outra acaba, uma acaba também. Nunca pensei que tudo terminaria assim. Só me dei conta de que eu era o único que sofria ao ouvi-la cantar na janela, naquele momento. Elizabeth não chora na janela. 

— As pessoas acham que você está equivocado. Admira minha música da janela, e acredita que me ama. 
— E o que você acha? 
— Eu não sei o que pensar, Timóteo. São 30 anos que separam nosso relacionamento. Tem um mundo a nossa frente, estamos separados por um oceano. 
— Não há oceano nos separando, apenas continente, apenas terra. São 29 anos, e não é um mundo, é só uma rua. 
— Timóteo. 

Após um momentâneo silêncio, eu suspiraria e responderia. 

— A mulher que canta pela janela me faz fugir da minha realidade. A mulher que eu amo torna minha realidade melhor. 



Trecho do livro 'Eu e As Mulheres' disponível gratuitamente no Wattpad

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