quinta-feira, 20 de agosto de 2020

A Fábrica de Bonecas

Talvez, sonhando, Mani permaneceu inconsciente por sabe-se lá quanto tempo. Sentiu a batida na cabeça e, por isso, foi o primeiro lugar que apalpou, quando voltou a si.

— Já era hora – disse o fabricante de pé, segurando o boneco completamente pronto, incluindo um pequeno gorro feito da raiz de Ana. 
— Eu desmaiei? 
— Adormeceu, por pouco tempo, não se preocupe. Levante-se, você já descansou o suficiente. 

A criança desentendida, com dificuldade, pôs-se de pé. Conferiu sua integridade física, constatando que não havia sangue em sua cabeça. Deu alguns passos para perto do fabricante e notou o pequeno chapéu de madeira na cabeça da marionete, decorado com três pedras da lua e com a frase que tanto o instigara. 

— Isso é meu. 
— Ainda é. 
— Não danificou a inscrição? – disse se aproximando do fabricante, aborrecido. 
— Não sonharia com isso – retrucou abaixando os braços, para pôr o boneco no chão. 

A marionete pulou dos braços de Tispadis, como uma criança sapeca saindo do colo de seu pai para brincar, e correu em direção a Mani. O menino ficou estático quando o boneco ganhou vida. 

— Não precisa ter medo – disse calmamente o fabricante. 
— Está viva! – gaguejou a criança apavorada. 
— Naturalmente.



Trecho do livro "Bairro dos Corvos Elétricos" disponível em E-book e Livro Físico

Nenhum comentário:

Postar um comentário