segunda-feira, 18 de maio de 2020

Lavadeira

Lavadeira na beira do rio
Lava e bate a roupa na pedra
Não sei se lavas com a água do rio
Ou com o suor da sua testa
Embranqueça o tecido
Purifica cada peça de roupa
Esfrega, esfrega e esfrega
Esfrega minha alma também
Embranqueça esse espírito travesso
Que me conduz o corpo
E torna-se pesado e espesso
Como a pedra em que bate sua roupa

Lavadeira, mulher
Ajuda esse infeliz que lhe suplica
A margem do rio se comove com meu pedido
Ô lavadeira!
Lava-me também o tempo
Apaga as manchas do passado
Amacia-me o futuro
Tira o odor do presente
Fala comigo lavadeira!
Ô mulher teimosa!
Conta-me uma anedota
Depois lhe conto versos meus
Mas não deixe de esfregar
Continua limpando
A roupa
E a minha alma
E o tempo

Lavadeira devota
De Nossa Senhora
E de São Joaquim
Reza cânticos enquanto lava
E castiga a roupa na pedra molhada
Não se esqueça de mim
Em seus cânticos solenes
Lavadeira, minha filha
Reze por mim também
Quando o rio se cansar de massacrar
O pobre tecidinho
E quando dormires
E os sonhos lhe embalarem
Deixe a pedra dormir!
Sonhe comigo
Com minh'alma
E com o tempo

Lavadeira bate na pedra
Roupa, alma e tempo
Limpa a roupa
Purifica a alma
E amacia o tempo
Chama Nossa Senhora
E São Joaquim também
Pra ouvir anedota
E versinhos meus
E pra ensinar a mim
A lavar e esfregar assim
Talvez apenas me ensinem
A não me sujar.

13/11/2010



Imagem: William-Adolphe Bouguereau (1825-1905) - Washerwomen of Fouesnant (1869)

Nenhum comentário:

Postar um comentário