segunda-feira, 30 de março de 2020

Por que devemos nos preocupar com a economia?


Hoje nasceu – ou eu finalmente vi que nasceu – uma plantinha no poste de frente pra minha janela. Não sei explicar a paz que essa imagem me trouxe. Pra quem tem uma vibe mais natureba e espiritualizada, sabe que o crescimento de uma planta no meio do caos urbano é algo tão simbólico, é tão poderoso. É o símbolo da resistência, em vários níveis. Da resistência da vida natural em meio as tentativas constantes de destruição do meio ambiente – com poluição, com desmatamento, com gestão urbana não sustentável. É resiliência, de uma vida que brota e se adapta ao meio adverso onde está. É o equilíbrio se restaurando, a calmaria que surge imperceptível no meio do caos urbano.

Mas nem tudo são flores e a paz que aquela planta me trouxe, quase que instantaneamente deu um gosto amargo na minha boca...

Essa planta ali em cima me fez pensar nas águas de Veneza, cristalinas pela primeira vez em anos, que está aparecendo até golfinhos ou no céu de São Paulo, azul pela primeira vez em sabe-se lá quantos anos. Não vou tecer teorias de conspiração, mas quem viu O Dia Depois de Amanhã sabe que a Terra tem seus próprios mecanismos de defesa e ‘salvar a humanidade’ não faz parte desses planos. Não estou afirmando que o COVID-19 é esse mecanismo de defesa, não, de maneira nenhuma. O que estou dizendo é que por conta da quarentena gerada pelo Corona Vírus estamos podendo observar a natureza se reconstruindo, sem humanos a destruindo.
Filme: O Dia Depois de Amanhã (2004)

É muito trágico e me entristece pensar que vivemos em guerra contra a natureza. Pensar que é num momento onde milhares de pessoas estão morrendo em todo o mundo, que a natureza está tendo a chance de se recuperar. Olha como isso é triste. Como é pesado. E é triste, porque é verdade. As mudanças climáticas geradas, especialmente, pela emissão desenfreada de CO2, as queimadas em florestas, o vazamento de óleo no mar, o crime ambiental que exterminou ecossistemas inteiros em Brumadinho... Realmente, vocês acham que o problema é a economia?

“Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come”.

Greenpeace

A chamada ‘civilização’ não é uma entidade a parte do mundo, mas desde seus primórdios ela não consegue encontrar uma forma de viver em harmonia com o mundo onde se construiu. Chega a ser paradoxal pensar que a gente destrói o nosso próprio habitat, o tornando cada vez mais inabitável para nós mesmos. Queimamos as florestas, poluímos os solos, as águas, o ar, levamos animais a extinção, jogamos tóxicos sobre os alimentos que cultivamos para o nosso próprio consumo e insistimos na ideia de que nossa vida vale mais dos que as dos animais que mantemos cruelmente em cativeiro para o abate e nosso consumo. Não é possível que não é claro que tudo está conectado. Se determinado animal entra em extinção, o ecossistema inteiro se desestabiliza. Lembra lá das pragas do Egito? Por que você acha que tem um surto de moscas depois da morte das rãs? Porque sem seu predador natural, elas se proliferam. E o que as moscas trazem? Doenças pra animais e para humanos... É cíclico. O papel de bala que você joga no chão hoje, vai entupir um bueiro amanhã e quando vier a enchente e inundar a sua casa, por mais responsabilidades que o prefeito tenha quanto a gestão urbana, você não pode se isentar da sua responsabilidade. A queimada na floresta, que destrói o ecossistema e joga fumaça preta no céu de São Paulo, é pra latifundiário criar pasto pra criar boi pra você comer, ou pra plantar soja transgênica pra você consumir.

Óbvio que a natureza vai reagir. O mecanismo de defesa é aumento do calor, as chuvas torrenciais e destruidoras, tsunamis, enchentes, incêndios, fumaça tóxica, falta d’água... Isso para listar algumas coisas que nos afetam diretamente. Realmente, o problema é a economia, porque ela quer sobreviver às custas de tudo e todos, inclusive, do planeta. Não sei se vocês se lembram daquele filme Wall-E, do robozinho que vive sozinho na Terra com sua amiga baratinha, limpando sozinho o lixo do planeta inteiro – pode parecer uma missão impossível, mas ele segue cumprindo-a diariamente. Até que chega EVA, um robô em busca da evidência de que a Terra é possível de ser habitável novamente. Essa evidência é nada além de uma pequena, discreta planta. A existência daquela planta, no meio de tanto lixo – porque é tudo que sobrou na Terra neste filme – é a prova de que a natureza venceu, fez seus próprios processos de resistência, resiliência e autodefesa, diante de tanto mal que a humanidade fez a ela, e conseguiu se reerguer.
Filme Wall-E (2008)

O nascimento de uma planta em lugares onde geralmente ela não teria como nascer é o início de um novo ciclo. De um recomeço. E eu retomo o meu momento de paz ao pensar que, se a gente tiver o mínimo de bom senso, diante de tantas mortes causadas pelo COVID-19 e diante de tanta barbárie feita e falada por líderes e empresários neoliberais, que pouco se importam com a vida do trabalhador, desde que e economia sobreviva, se tivermos discernimento diante de tudo isso, quando essa situação terrível passar – e ela vai passar, porque nós também somos resilientes – vamos pensar em formas sustentáveis e harmônicas de existir neste mundo e vamos parar de achar que a economia é o que importa. Porque os empresários dizem ‘o que tem morrer alguns milhares de pessoas, para manter a economia saudável’, talvez, passar por esse momento tão difícil na história da humanidade, faça a humanidade repensar suas próprias prioridades e perceber que a economia não devia ser uma delas.

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