domingo, 10 de fevereiro de 2019

Invisível

As pessoas me vêem
Mas elas não me enxergam
Eu sou invisível 
Ninguém nunca prestou atenção em mim
Não valia a pena notar 
O olhar desesperado de uma criança sendo destruída
O medo aterrorizante de uma alma que muito cedo sonhava com a morte
Não valia a pena perceber
Os cortes que desferiu na própria alma, porque odiava sua própria pele
Os gritos que sufocou na madrugada de banhos frios, pra afogar o desejo antigo de morrer
Pra que prestar atenção?
É só uma criança estranha
Só uma adolescente dramática
Só uma adulta metida
Ela não tem problemas, porque ela conta piada
Ela não tem problemas, ela tem muito estilo
Ela não sofre, porque sempre quer ajudar os demais
Ela é forte, porque não teme morrer por seus ideais.
Ela não teme morrer, porque ela quer morrer.
Ela não sofre, porque ela não tem ninguém com quem contar
Ninguém que apenas a enxergue
Ela não tem problemas, porque ela engole cada um deles antes de dormir
E chora no meio de desconhecidos
No transporte coletivo
No banheiro químico
Ela vomita toda noite
Tudo que comeu e o que não disse
Tudo o que ouviu e deixou passar
Tudo que ignorou, quando foi ignorada
Ela se isola, sem paredes
Não tem pra onde fugir
Esse mundo a quer morta desde que nasceu
E pro seu azar e pior pesadelo
Ela sobreviveu
A única coisa que deixa por escrito
É uma série de vazios
E a promessa de jamais avisar
Porque os desatentos iam fazer como sempre
Iam ver e ignorar.

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