quinta-feira, 7 de setembro de 2017
Selfie
Eu nunca soube porque nunca gostei de me ver em foto. Não essas fotos aleatórias que tiro pra postar no Instagram que depois nem me lembro o dia ou local que tirei, mas foto de lembrança, de lugares que fui, de momentos importantes, de sentimentos bons que senti. Eu nunca gostei. É a única lembrança que eu passo pelo meu Facebook direto, ou quando alguém me marca em algo desse tipo, eu dificilmente comento ou curto. Sempre me perguntei porquê, o que a foto me incomoda, a prisão de uma lembrança, meu sorriso idiota, mas genuíno, a idéia de um tempo que não volta ou talvez de um tempo que não devia ter acontecido. Talvez me ver na foto seja a mesma sensação que eu tenha ao me ver no espelho, pode não parecer, mas o tempo que eu passo diante do espelho, eu estou arrumando o meu cabelo. Se me perguntarem a cor dos meus olhos, o formato da minha boca, o tamanho do meu nariz, eu não saberia dizer. Talvez tenha a ver com uma autoestima estraçalhada durante uma vida inteira, talvez o medo de relembrar a criança de uma infância destruída, talvez o incomodo e a vergonha de ver um rosto e o corpo da forma como os outros viam e me faziam me sentir mal pelo que eu sentia sobre mim mesmo. A fotografia, sendo como for, me incomoda, porque ela em si não tem poder, mas a lembrança que ela gera, é tão venenosa e corrosiva, que não consigo me lembrar de uma foto que não me deixe angustiada. A foto me mostra da pior forma que eu posso me ver: fraco, vulnerável, emocional, oco, aquele ser sem alma ou melhor com uma alma que ninguém nunca soube ver, com um sorriso tão patético, mas tão sincero que só eu mesmo consigo decifrar: você estava tão feliz, que devia ter congelado o tempo real, a foto não dá conta do tamanho da sua alma, da alegria do seu sorriso, da importância do momento. A foto é só um desejo fracassado de se prender num tempo, num breve momento, onde dava pra ser feliz, sem o tempo precisar intervir. A foto ainda é meu mistério, talvez eu nunca saiba o que nela me inquieta, só espero não viver tanto, pra achar que o tempo é o que faz do veneno na foto, seu antídoto.
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Escritora, videomaker e produtora
cultural, aspirante à profissional de
marketing de conteúdo, com
experiência em escrita criativa,
produção de conteúdo, criação de
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