domingo, 1 de maio de 2016

A vida em 24 horas - Capítulo VI

17h11 - Hoje eu morri mais uma vez, quando me vi rodeada por uma multidão de gente que fala coisas que não posso ouvir, que me olha com olhos que nem sei dizer. Me vi ali afogada de olhos, de vozes, em frequências tão altas que faziam silêncio, faziam escuro. No escuro, posso não ver a cadeira e tropeçar, e na praça humana de indiferença e cada um por si, mesmo sem ser vista, permaneço ali, buscando ver almas atrás dos olhos eletrônicos das lentes das câmeras e celulares, ver verdade atrás dos filtros artificiais pra fazer a natureza parecer mais bela, permaneço ali vendo e ouvindo as mesmas coisas, os mesmos rostos, as mesmas mágoas esfaqueando os outros. A rotina é um pivete que te assalta os sonhos em cada esquina, quando a gente caminha sem fone, sem trilha sonora, a vida não é arte, mas a realidade não basta.

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