quarta-feira, 27 de julho de 2011

As Flores de Plástico Não Morrem

É a frase que eu leio todas as manhãs ao passar correndo, como sempre atrasada, para pegar o ônibus e ir para a faculdade, escrita à tinta preta no muro do metrô. Todos os dias passo ali e me perco tentando decifrar essa frase, todos os dias, cada dia que passa. “As flores de plástico não morrem”. Mesmo atrasada eu preciso passar por ali e ler novamente, procurar pistas sobre aquela reflexão que me propõe a simples constatação de que flores de plástico não podem morrer. Não entrando no mérito técnico da questão: defina plástico, mas há tantas verdades expressas nessa frase. Claro, assumindo toda a musicalidade que me traz, quase que naturalmente, a voz de Cartola cantarola baixinho em meu ouvido “queixo-me as rosas, mas que bobagem, as rosas não falam”.

É algo um pouco inato, é complicado, é simples a sutileza do belo, do conceito, meu Deus, me pergunto, o que esse cidadão quer me dizer? E ele tem algo a me dizer com isso, com certeza tem, ele não se daria ao trabalho e ao risco de pichar tais palavras naquela parede sem que tivesse alguma motivação muito forte, algum sentido atrelado, sem nenhuma intenção. Outra coisa que tem o feliz ou infeliz dom da imortalidade me incomoda, a sombra. Sombras não podem morrer. Que curioso, que intrigante. E mais estranho ainda é o fato de eu ficar pensando nisso durante todo o trajeto do meu ônibus, todos os dias, sobre as flores de plástico e sobre as sombras. Há algo muito mais do que simplesmente físico nessas questões, há misticismo, há beleza. Não são frases de impacto, são frases perfeitamente simples e previsíveis, são de fato constatações óbvias do mundo físico e racional.

Mas não há sombra sem poesia e menos ainda flores de plástico. Há algo de poético, algo de musical, algo filosófico e simbólico nessas frases. Por Deus, as rosas não falam. A house is not a home. É muito mais profundo do que parece. É como um piano dizendo palavras simples que se encaixam na última ponta que conecta todas as coisas do universo, e ele não está afirmando, debatento, ou tentando entender nada, ele está concluindo: “flores de plástico não morrem”. Invadem loucamente os pensamentos e ideias em minha mente, imagine quantas experiências foram vividas, que o levaram a concluir tal fato. Então eu chego a faculdade, vou assistir minha aula. Outras coisas tomam conta de minha ideias, e já não penso mais na morte das flores, nem no velório das sombras. Pela manhã, ao passar correndo ali novamente, irei ler a frase outra vez, e na manhã depois daquela, e na outra e na outra. E um dia vou me formar, e não precisarei mais passar atrasada por ali. Terei minha própria vida, quem sabe nem morando ali perto. Vou continuar a viver até onde Deus permitir, e então ele vai me levar. E quando eu partir, as flores de plástico vão continuar aqui. Veja que curioso. Amanhã de manhã vou pensar sobre isso.

Escrito em 13/05/2011 por Carla Eloi

Um comentário:

  1. http://www.senhoradorosario.org/2012/06/um-minuto-antes-das-tres_22.html

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